domingo, 13 de setembro de 2015

IRREVELANTE


                                                         Foto por Betânia Liberato

RESPONDA COM VERDADEIRO OU FALSO



1- A tíbia é um osso relativamente grande V F


2- Quando falta o meu colega de carteira sinto-me mutilado V
F


3- A mãe cuida, a mãe mima V F


4- As árvores estridentes V F


5- Preferia imolar-me V F


6- Não me lembro do que te disse para esquecer V F


7- Cheira a sonhos e canela V F


8- As pessoas com a alcunha “Sapo” V F


9- Ir às musas V F


10- Vivo nos subúrbios da dor V F


11- Os arranha-céus violam os céus V F


12- No máximo, roço-me em automóveis mal estacionados V F


13- Os santos calçam 32 ou menos V F


14- Sinto que sou importante para mim e para os outros V F


15- Mas quais outros?! V F


16- A chave para entrar nos pés do sol V F


17- Pela via láctea fora estende-se um tapete de peixes V F


18- Deus ri-se cosmicamente V F


19- Ai se eu fosse uma laranja antropomórfica V F


20 - Salvação em bemol; gente espontaneamente púrpura V F



A.M.

Corre sangue nas minhas veias, sem pausas ou empurrões,
alentos ou desilusões. As batidas do coração não são mais
precisas, porque a batida da minha mão é contínua. E o sangue
corre, com gosto. Não cansa. Não precisa de contrações
violentas dos músculos que o acompanham. Tudo agora é
descontração. Porque a minha mão tem magia e é seguida pelo
meu sangue à medida que percorro o corpo. E descanso o
coração. A minha mão toca na outra mão, e o sangue chega até à ponta
dos dedos. Passo a minha mão pelo braço e o sangue volta para trás.
Deixo a minha mão em cima do peito, e o meu coração afoga- se,
soluçando de emoção. Tem saudades de trabalhar o
sangue, mas o sangue não quer ser mais trabalhado por
alguém que só trabalha com paixão.  Alguém que ameaça parar
só por uma simples constipação. Alguém que ameaça fazer
greve só por um leve não, dado por outro coração. Alguém que
finge estar partido, quando um coração partido não tem
reparação. A minha mão é que manda. A minha mão é que tem razão.
A minha mão toca em tudo para haver vida em tudo.
E por isso eu estou viva. Pois tudo é meu.
A minha mão toca em todas as minhas imperfeições e é como
se elas o não fossem para alguém e esse alguém fosse eu.
O meu coração volta a soluçar, mas isso não atrapalha a
corrida do meu sangue. E a minha mão escreve-me no corpo: ser coração e
não bater, ser mão e não escrever, ser mulher e não me conhecer.
To be a rock and not to roll.
Ser sangue e não correr.
Mas ele corre

Adriana Matos

DEUS É EMPLASTRO



Uma criança morre
inocente,
esquecida no futuro
porque não sonha
o presente

E diz que o átomo
foge,
destilado do retrato
mal passado
e abstrato

AH! MAS,
AS HORAS SÃO O QUE SÃO
E TU ÉS O QUE ÉS
AS COISAS NÃO SÃO O QUE NÃO SÃO
E TU NÃO ÉS QUEM NÃO ÉS

Há, mas
há coisas que se parecem
com o que não são

Coisas que rimam com coisas
em fronteiras metafísicas 
que separam o inseparável
no tempo
e no espaço

HÁ, MAS
NÃO SÃO VERDES



Rosa Conceição

E eu sou o Outro



E sonho engravidar ouvidos
com silhuetas de girassóis
porque não são x ou y

São A priori
como o sinal da televisão
nas ecografias da transcendência

Na era da razão
nos astrolábios da ciência
nus planaltos turquesa

Nas vertigens,
que só nossa fé faz virgens
nos anjos



Rosa Conceição

Jonas


Ilustração por Joana Marques

Uma Flor No Tornozelo e Um Peixe Na Coxa


Não saberias encontrar a região onde se pronuncia insípida a curva, chegaste para erigir uma transmigração geométrica. Se te falassem da consciência do encadeamento das sílabas ou de quando a noite se torna cor de leite, dizias que as máquinas fotográficas foram inventadas para fazer desaparecer o diálogo.
Dizias penumbra, eras ágil. Dizias conhecer a tua cara como um incêndio por extenso, que no combate final das palavras, “magma” teria uma menção honrosa. Promovias a verdade de ser privado. O derrame das coisas, promiscuidade última entre sanidade e amor. Afecto. Falar do preço de humanos póstumos. Adquirir o futuro de forma intravenosa.


A.M.

Raça pura puto



Não temo enquanto deslizo. Não sofro enquanto durmo. Partilho o meu desgosto, mas sou sempre duro. Sempre a levantar, sempre a assapar. Sempre a partir, sempre a esticar, sempre sempre, sempre sempre.
Quantas luzes ficam acesas depois de eu ir? 
Quantas vezes engoliste as tuas palavras?
Quantas vezes vais fluir com o teu pessoal?
Quantos dias passaram num quarto sem janelas?
Não vaciles agora fodace!
Esse teu soslaio, andar vagaroso e descaído sorriso ligeiro, que te plantam numa terra sem nome é um exemplo de como tu me percebes. Guardas o sal (guarda-lo bem!), porque nunca te ensinaram a pescar, só te deram a comer sombras.
Caminhas pelos quatro portais mas a tua cruz dá-te estilo. Horrores martelam minuciosamente as marcas das suas garras, e tu sempre a curtir.
E o fantástico é o momento em que o teu reflexo te observa e espanta-se, pois tu sorris enquanto as nuvens se libertam do teu peito, as cobras entram-te pelas mangas e o turbilhão de correntes plausíveis começa.
A tua bagagem é vendida por 30 paus (então a tua alma já nem se fala), mas tu voltas à vida todos os dias. 
A manhã não te aquece, o fulgor deixa-te, as laranjas deixam de arder, o mestre liberta-te e a tua sétima porta fecha mais uma vez. Como é que sabes que é tudo teu?

Sempre a partir, sempre a esticar, sempre sempre, sempre sempre.



David

Muro



Lembra-te daquele inverno,
Lembra-te das gotas que
molhavam as janelas vidradas.
Lembra-te das palavras embaciadas
e das rosas amarelas,
lá fora, no jardim.

E sorri.
Sorri pelo que passou
e sorri pelo que virá.
Sorri quando a luz parecer já fraca
e a treva cegar o dia.

Porque o passado fugiu
A chuva cai agora pesada,
e, mesmo assim, ainda há velas



Mariana F.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014



O IRREVELANTE é uma mini-revista distribuída gratuitamente que surge no âmbito de compilar fotografias, desenhos e textos de livre tipologia/temática, com vista a uma evolução criativa dos seus colaboradores criando uma interacção entre os criadores e o público. 

A revista estará disponível em bibliotecas, associações culturais, livrarias e cafés seleccionados pelo país. Os textos integrantes da edição física surgirão também neste blog


Objectivos do projecto:


* Amplificar ideias, conferindo maior visibilidade aos projectos


* Incentivar o gosto pela criação em várias áreas


* Desenvolver um maior acesso a várias formas de arte sem quaisquer restrições ou imposições


* Criar uma plataforma que permita gerar um grande leque de influências 

* Promover o contacto entre os colaboradores criando uma rede de conhecimentos

* Dinamizar o panorama cultural 

Ao recebermos os conteúdos, vamos proceder a uma selecção dos mesmos. Tudo que recebermos pertencerá aos autores, não nos apropriaremos dos direitos de autor.


Pretendemos que o projecto não se esgote na revista e vá para além disso, eventualmente editando os livros de alguns autores, criar debates, sessões de cinema, parcerias com instituições/associações culturais e muito mais.


Envia para irrevelante@gmail.com