domingo, 13 de setembro de 2015

Raça pura puto



Não temo enquanto deslizo. Não sofro enquanto durmo. Partilho o meu desgosto, mas sou sempre duro. Sempre a levantar, sempre a assapar. Sempre a partir, sempre a esticar, sempre sempre, sempre sempre.
Quantas luzes ficam acesas depois de eu ir? 
Quantas vezes engoliste as tuas palavras?
Quantas vezes vais fluir com o teu pessoal?
Quantos dias passaram num quarto sem janelas?
Não vaciles agora fodace!
Esse teu soslaio, andar vagaroso e descaído sorriso ligeiro, que te plantam numa terra sem nome é um exemplo de como tu me percebes. Guardas o sal (guarda-lo bem!), porque nunca te ensinaram a pescar, só te deram a comer sombras.
Caminhas pelos quatro portais mas a tua cruz dá-te estilo. Horrores martelam minuciosamente as marcas das suas garras, e tu sempre a curtir.
E o fantástico é o momento em que o teu reflexo te observa e espanta-se, pois tu sorris enquanto as nuvens se libertam do teu peito, as cobras entram-te pelas mangas e o turbilhão de correntes plausíveis começa.
A tua bagagem é vendida por 30 paus (então a tua alma já nem se fala), mas tu voltas à vida todos os dias. 
A manhã não te aquece, o fulgor deixa-te, as laranjas deixam de arder, o mestre liberta-te e a tua sétima porta fecha mais uma vez. Como é que sabes que é tudo teu?

Sempre a partir, sempre a esticar, sempre sempre, sempre sempre.



David

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