domingo, 13 de setembro de 2015


Corre sangue nas minhas veias, sem pausas ou empurrões,
alentos ou desilusões. As batidas do coração não são mais
precisas, porque a batida da minha mão é contínua. E o sangue
corre, com gosto. Não cansa. Não precisa de contrações
violentas dos músculos que o acompanham. Tudo agora é
descontração. Porque a minha mão tem magia e é seguida pelo
meu sangue à medida que percorro o corpo. E descanso o
coração. A minha mão toca na outra mão, e o sangue chega até à ponta
dos dedos. Passo a minha mão pelo braço e o sangue volta para trás.
Deixo a minha mão em cima do peito, e o meu coração afoga- se,
soluçando de emoção. Tem saudades de trabalhar o
sangue, mas o sangue não quer ser mais trabalhado por
alguém que só trabalha com paixão.  Alguém que ameaça parar
só por uma simples constipação. Alguém que ameaça fazer
greve só por um leve não, dado por outro coração. Alguém que
finge estar partido, quando um coração partido não tem
reparação. A minha mão é que manda. A minha mão é que tem razão.
A minha mão toca em tudo para haver vida em tudo.
E por isso eu estou viva. Pois tudo é meu.
A minha mão toca em todas as minhas imperfeições e é como
se elas o não fossem para alguém e esse alguém fosse eu.
O meu coração volta a soluçar, mas isso não atrapalha a
corrida do meu sangue. E a minha mão escreve-me no corpo: ser coração e
não bater, ser mão e não escrever, ser mulher e não me conhecer.
To be a rock and not to roll.
Ser sangue e não correr.
Mas ele corre

Adriana Matos

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